Parece-me, cada vez mais nítido, que o conceito de decência está irremediavelmente morrendo de hemorragia. Fizemos um corte pequeno no pulso da Ética para vê-la morrer devagar, sentindo a vida sumir pelo chão, enquanto se observa impotente a derrocada da existência humana.
É dessa maneira que resolvi tratar o assunto dos animais que marcaram a testa de um adolescente de 17 anos com uma frase de efeito, para se vingar de um ato errado, como simplesmente tentar roubar uma bicicleta.
O dano à dignidade do homem em Deus chegou a um nível de decadência tão eloquente, que uma bicicleta foi o gatilho para acionar dentro do indivíduo um processo de fúria selvagem tal, que o resultado foi uma testa tatuada com a frase “Eu sou ladrão e vacilão”.
Nesse instante o ser humano foi nivelado a um bicho que precisa ser marcado para que possa ser avistado e recapturado caso resolva fugir. Como chegamos a este estado de insanidade? Como chegamos ao ponto de entendermos que agindo dessa maneira alucinada, de alguma forma estamos fazendo justiça, lutando pelo Bem, fortalecendo laços com Deus?
Aliás, a derrocada da decência, a instabilidade humana, a ferocidade que sangra os olhos dos humanos, a ira descalibrada, tem a ver não com os descompassos filosóficos, com as fraturas sociais, com as diferenças culturais, mas sim com o distanciamento de Deus.
Não dá para nos tornarmos bandidos para acharmos que assim estaremos combatendo melhor os bandidos. A harmonia é a única esperança para a raça humana. É um belo desafio sufocarmos dentro de nós o desejo pela vingança, pela retaliação. Porque é mais fácil sermos brutos sempre. Não importa pelo que estejamos passando, nunca a Lei de Talião funcionou por onde foi implantada.
Então, respirar com calma, contar até 10, resistir à sede de sangue, transcender o mal e evoluir apesar dele é ainda a saída mais inteligente. Mas, concordo, não é fácil. E não tem que ser mesmo! Existe uma grande peneira que se chama Deus. Mesmo que alguns, tolamente, desconsiderem sua existência.
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